O IBP e as Críticas construtivas ao Concílio Vaticano II

Esse artigo foi publicado originalmente no site: "Apostolado Defesa Católica", resolvi trazê-lo para cá para informações a respeito do Instituto Bom Pastor, tão caluniado por vários modernistas e outros. Segue o artigo na íntegra, abaixo.

O atrevimento de um “infalibilista” desesperado

Olá, queridos amigos!

Acompanho assiduamente o blog do Reverendo Pe. Marcelo Tenório. Também acompanhei o debate entre Eder Silva e o Rui.

Escrevo para comunicar ao Sr. Eder que o Rui respondeu com alguns questionamentos ao seu artigo sobre a possibilidade de crítica ao Vaticano II

Gostaria muito de ver a resposta do Eder Silva. Por isso coloco aqui o link para acesso:  (CLIQUE AQUI).

Resposta


Prezado “anônimo”
Salve Maria!

Agradeço o comunicado de que meu artigo foi “superficialmente” criticado no blog do Reverendo Padre Marcelo Tenório.

Não costumo perder tempo dando tapas em “moscas” desorientadas quando a batalha transcorre entre os “elefantes” da púrpura romana. Esses pretensos teólogos virtuais – cegos ao meio dia – querem, a todo custo, salvar o discutido, criticado e desprezado Concílio Vaticano II, espalhando por todos os cantos, seus sofismas ridículos e ultrapassados.

Debater com esses deturpadores da infalibilidade pontifícia requer mais paciência que argumentos. A teimosia ou cegueira deles parece invencível. Mas como você me fez a gentileza do aviso, faço questão de enterrar de uma vez por todas esse atrevido “Golias” que, na ânsia de vencer sozinho, despreza não apenas o Superior do IBP – insinuando leviandade em seus discursos – mas todo o clero ligado a esse Instituto, por sustentarem, juntamente com seu superior, o direito de crítica construtiva ao próprio Vaticano II.

Por ordem de importância, transcrevo primeiramente o trecho do primeiro sermão público do Superior do IBP, contendo a confirmação explícita do direito de crítica construtiva ao Vaticano II

“Les moyens, je vous l’ai déjà dit, je ne reviens pas là-dessus, c’est : nos statuts, ces deux charges essentielles, les trois charges essentielles de nos statuts que je résume : cette obligation de la messe traditionnelle, le devoir de critique, de donner la véritable interprétation du concile Vatican II, et troisièmement cette ouverture des paroisses qui est dans nos statuts, qui est dans nos statuts!” (Pe. Laguérie. Sermão proferido na Igreja Saint Eloi, em 10 de setembro de 2006)

Segundo as palavras públicas do Superior do IBP, o dever de crítica ao Concílio consta como uma das responsabilidades fundamentais do Instituto.

E ele diz mais:

"Vós me direis: mas não cederam em nada? Pois bem, não cedemos, como pudestes constatar bem: quanto à liturgia, não cedemos nada, quanto à doutrina, nada, e menos ainda, se assim posso dizer” (Pe. Laguérie. Sermão proferido na Igreja Saint Eloi, em 10 de setembro de 2006).

Roma não exigiu dos ex-membros da FSSPX qualquer retrocesso ou renúncia de suas posições tradicionalistas com relação a Missa Nova e o Vaticano II. Portanto, o Papa reconheceu que é possível ser católico rejeitando a Missa Nova e criticando esse Concílio que não definiu dogmas, colocando- se em modesto nível de diálogo democrático e pastoral.

Em consonância com o Padre Laguérie, pronunciou no mesmo sentido o Superior do IBP na América Latina, o Padre Rafael Navas Ortiz:

“En ese Discurso, el Papa Benedicto XVI reprobó el llamado ‘espíritu del Concílio’ que da una interpretación nitida y abiertamente modernista del Vaticano II. Ahora, el Papa solicita que se haga una crítica al texto del Vaticano II, y lo solicita al Instituto del Buen Pastor, encargándolo particularmente de esta ardua misión. Si el espíritu del Vaticano II ha sido reprobado por el Papa Benedicto XVI, y si él pide ahora que su letra sea criticada, se puede preguntar ¿qué es lo que resta del Vaticano II?” (Polêmica com Prof. Felipe Aquino sobre o Instituto do Bom Pastor).

Novamente está dito – por um padre superior do IBP – que o Papa concedeu ao Instituto do Bom Pastor a missão de crítica aos textos do Vaticano II. E, diante da condenação do chamado espírito do Concílio, somado à crítica de sua letra, ironiza o Padre Navas: “O que resta do Vaticano II?” 

Realmente, se o espírito foi condenado e se a letra é criticável, o que sobra desse Concílio que abriu as janelas da Igreja para a fumaça de Satanás?

Na mesma linha declarou o Padre Tanoüarn, também clérigo do IBP:

“Ademais, conformemente ao discurso do Papa Bento XVI à Cúria Romana de 22 de dezembro de 2005, os membros do Instituto, enquanto isso lhes cabe, se comprometem, por meio de uma ‘crítica séria e construtiva’ do concílio Vaticano II, a permitir à Sé Apostólica dar-lhe a interpretação autêntica” (Pe. de TANOÜARN. Centre Saint-Paul, Paris, Communiqué: Dialogue entre Rome et les traditionalistes, un premier acquis).

E confirmando as palavras do Pe. Laguérie, isto é, de que os ex-integrantes da FSSPX em nada cederam acerca de suas posições tradicionalistas, também assegura o Pe. Tanoüarn em sua severa e explícita critica ao Vaticano II:

“Sobre o fundo da questão, não cedemos nada. Leiam, portanto, atentamente o comunicado anexo: uso exclusivo da liturgia tradicional, crítica construtiva do concílio Vaticano II. Com magnanimidade, Roma nos concedeu tudo. E em contrapartida? Pois bem, nós devemos auxiliar este Papa, lá onde nós estamos, com os meios de que dispomos, a tirar a Igreja da religião conciliar. Tenho algumas idéias acerca dos modos práticos de execução dessa bela missão”(Pe. Guillaume de TANOÜARN. Lettre à nos amis 2, setembro de 2006, Centre Saint-Paul, Paris).

Também o Padre Aulagnier, braço direito de Dom Lefebvre, não só defendeu as sagrações episcopais de 1988 como teceu uma crítica séria e construtiva a Missa Nova e ao Vaticano II, já como Padre do IBP:

“Quando eu discuto um certo número de opções teológicas, adotadas pelo Concílio Ecumênico Vaticano II, é com – e eu diria em razão de – um ‘supra-respeito’, se me permitirdes a expressão, pela autoridade legitimamente envolvida’. Isso satisfez o Cardeal [Castrillón Hoyos], que mo notificou por escrito, por intermédio do Arcebispo de Clermont. E é assim que eu continuo sempre a discutir certas posições do concílio Vaticano II, sobre a liberdade religiosa, sobre o documento conciliar Nostra Aetate...Aquilo que o concílio disse a esse respeito é claramente insuficiente” (Pe. AULAGNIER. Sur la Fraternité saint Pie X et sur l’Institut du Bon Pasteur – entrevista a Valérie Houtart, Un regard sur le monde politique et religieux, n.° 102, 21 de setembro de 2006).

Quanto a Missa, assim declarou:

“Uma coisa pode ser válida sem ser legítima nem ortodoxa. É preciso até mesmo distinguir entre legitimidade e ortodoxia. Tampouco essas duas palavras se equivalem. É legítimo aquilo que é fundado ‘no direito’, mas também ‘na eqüidade’. O ‘direito’ e a ‘eqüidade’ não são, tampouco, a mesma coisa. É preciso distinguir. Eu posso vos demonstrar que a missa nova, certamente, não é legítima nem quanto ao direito nem quanto à eqüidade. [...] Essa nova missa pode mesmo ser considerada ilegítimano plano da eqüidade, da justiça. Foi fazer violência à santidade da Igreja impôr a Ela, à força, um rito que, nas palavras de seus próprios protagonistas, acaba por dessacralizar tudo. ‘Ortodoxo’ quer dizer conforme aos dogmas, à doutrina. Ora, precisamente essa questão da ortodoxia ou não do Novus Ordo Missae foi levantada, de facto, pelas mais altas autoridades da Igreja: o próprio Papa João Paulo II, essa questão está na lógica de sua última encíclica eucarística. Mas essa questão da ortodoxia também foi levantada, no início do problema da missa, pelo Cardeal Ottaviani e pelo Cardeal Bacci, os quais, em sua carta ao Papa Paulo VI, escreveram que essa nova missa se afasta, tanto em seu conjunto quanto nos detalhes, da Teologia Católica definida nas XXII sessões do Concílio de Trento. O Papa João Paulo II admitiu ter vontade de buscar corrigir, de reformar a nova missa deficiente no plano teológico. São as ‘sombras’, como ele diz... Mas não são essas também as preocupações que animam o Cardeal Ratzinger quando ele falava da ‘Reforma da reforma’? [...] Podeis ver da maneira mais clara que eu não mudei quanto ao problema da Missa Nova. Minha posição é sempre a de Dom Lefebvre, a do ‘Breve exame crítico’, a do Cardeal Ottaviani, a do Cardeal Bacci, a de Dom Antonio de Castro Mayer...”(Pe. AULAGNIER. Sur la Fraternité saint Pie X et sur l’Institut du Bon Pasteur – entrevista a Valérie Houtart, Un regard sur le monde politique et religieux, n.° 102, 21 de setembro de 2006).

O que diria dessas palavras críticas nosso teimoso e míope blogueiro opositor? Que Padre Aulagnier estaria fazendo algo não previsto no Estatuto do Instituto, isto é, polemizando e fazendo críticas públicas ao Vaticano II e ao Novus Ordo Missae? Ora, a polêmica não parte dos padres do IBP que estão apenas exercendo um direito reconhecido, mas daqueles que querem impugnar esse direito, rechaçando como “desobediência e cisma” qualquer análise crítica do Concílio.

A verdade é que esses aventureiros de internet falam sem conhecer. Despejam calúnias e insinuações imprudentes, porque no fundo querem apenas o triunfo de suas opiniões pessoais.

Compondo a orquestra de crítica ao Concílio, Padre Stefano Carusi – do IBP – reafirmou o dever de crítica em um artigo-resposta à carta de Monsenhor Guido Pozzo:

“Este posicionamento não exclui – aprioristicamente – que alguns pontos problemáticos de certos pronunciamentos possam ser interpretados segundo uma leitura de “continuidade da hermenêutica teológica”, ainda que apresentando algumas vezes expressões ambíguas. A crítica “séria e construtiva” não exclui forçosamente a eventualidade, sempre que possível, de ler em continuidade com o Magistério anterior algumas passagens recentes; mas quer exprimir também a possibilidade – e o dever filial – de dizer abertamente à Santa Sé que certas coisas poderiam pedir uma reconsideração. Em razão do poder das Chaves, no supremo obséquio à Verdade e no interesse da Igreja, o Sumo Pontífice pode fazê-lo com textos magisteriais não infalíveis, especialmente onde a continuidade fosse não demonstrada” (O “rito próprio” e a “hermenêutica da continuidade” são suficientes?).

E o próprio Monsenhor Pozzo, em sua carta ao IBP, deixou nitidamente enunciado esse dever de crítica:

“Mais do que uma crítica, mesmo “séria e construtiva”, sobre o Concílio Vaticano II, os esforços dos formadores devem dizer respeito a uma transmissão da integralidade do patrimônio da Igreja, insistindo na Hermenêutica da Renovação na Continuidade, tendo por base a integralidade da doutrina católica exposta no Catecismo da Igreja Católica” (Comentário às tratativas do acordo entre o Vaticano e a Fraternidade São Pio X).

Embora peça uma preferência pela hermenêutica da continuidade, Monsenhor Pozzo faz referência a crítica séria e construtiva sobre o Concílio Vaticano II. Portanto, é o Secretário da Comissão Ecclesia Dei quem afirma a existência dessa missão crítica do IBP.

Para encerrar, mais uma confirmação de um membro do IBP feita, na época, ao jornalista Henri Tincq:

“Mas os Bispos da França arriscam também a sair mal diante daquilo que aparece como uma curiosa concessão do Vaticano. Se por um lado o Pe. Laguérie obteve do Papa o direito de guardar a antiga tradição litúrgica, nada indica que ele tenha aprovado o espírito e as reformas do concílio Vaticano II (1962-1965), julgado diabólico por seus pares. ‘Nós estaremos autorizados a fazer críticas positivas aos textos que nos parecem contestáveis ou obscuros’, disse sexta-feira um de seus colegas” (Henri TINCQ, Des disciples de Mgr Lefebvre se rallient au Vatican, Le Monde, 10 de setembro de 2006).

Praticamente todo o IBP cantando em uma só voz a verdade incontestável que confere ao IBP a liberdade para criticar publicamente o Vaticano II.

Seria muita audácia de nosso desafiador de blog supor que todo o IBP estaria se desviando dos deveres que lhe foram outorgados ou mesmo inventando um apanhado de mentiras que, astutamente, apresenta como verdades. Isso é não só impossível como também um grave insulto ao Papa e aos padres do IBP.

Acreditando ou não, o IBP tem sim o dever de crítica pública ao Vaticano II.

Portanto, que estrebuchem os cegos inconformados!

In Corde Jesu, semper

Eder Silva

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