Rezar pelas almas do Purgatório

17. A obrigação que temos de rezar pelas almas do purgatório (I)


Seja-me permitido fazer aqui uma digressão em favor das almas do purgatório. Se quisemos o socorro de suas orações, é justo que cuidemos também de socorrê-las com nossas orações e boas obras. Disse que é justo, mas deve-se dizer ainda que é um dever cristão. Pois manda a caridade que socorramos o próximo em suas necessidades, mormente quando podemos fazê-lo sem incômodo de nossa parte. Ora, é certo que, entre aqueles que caem debaixo da palavra “próximo”, devem-se compreender as benditas almas do purgatório. Elas, apesar de não estarem mais nesta vida, nem por isso deixam de pertencer à comunhão dos santos. “As almas dos fiéis defuntos, diz Santo Agostinho, não estão separadas da Igreja”.

E mais claramente declara Santo Tomás a este respeito, dizendo que “a caridade é o vínculo que une os membros da Igreja entre si e não se limita tão somente aos vivos, mas também aos mortos, que partiram deste mundo na graça de Deus”. Portanto, devemos socorrer, quanto possível, aquelas santas almas como a nosso próximo e, sendo a sua necessidade maior, maior também consequentemente deve ser a nossa obrigação de socorrê-las.

18. Os sofrimentos das almas do purgatório



Em que necessidade se acham estas santas prisioneiras! Certo é que seu sofrimento é imenso. “O fogo que as tortura, diz Santo Agostinho, é mais grave do que qualquer sofrimento que possa atormentar o homem nesta vida”. O mesmo diz Santo Tomás, acrescentando ser aquele fogo semelhante ao do inferno: “pelo mesmo fogo é atormentado o condenado, e purificado o escolhido”. Isto quanto ao sofrimento dos sentidos. Mas muito maior é o sofrimento que causa a estas santas esposas a privação da visão de Deus.

Aquelas almas, não só por natureza, mas ainda pelo amor sobrenatural em que ardem para com Deus, com tal ímpeto são impelidas para se unirem ao sumo Bem que, vendo-se impedidas por motivo de suas culpas, sofrem dor tão acerba que, se lhes fosse possível a morte, morreriam a cada momento. Pois, segundo diz São João Crisóstomo, esta privação da visão de Deus as atormenta muito mais do que o sofrimento dos sentidos: “Mil fogos do inferno juntos não causariam tanta dor, como esta do dano!” Por isso aquelas santas almas prefeririam sofrer qualquer outro castigo do que serem destituídas, um só momento, da suspirada união com Deus. Diz, por isso, o Doutor Angélico que “o sofrimento do purgatório excede todas as dores que podemos sofrer nesta vida”. Refere Dionísio Cartusiano que certo defunto, ressuscitado por intercessão de São Jerônimo, disse a São Cirilo de Jerusalém que todos os tormentos desta terra são gozos e delícias em comparação com o menor sofrimento do purgatório: “Todos os tormentos desta vida, se comparados à menor pena do purgatório, seriam verdadeiros gozos”. E acrescenta que, se alguém tivesse experimentado aqueles sofrimentos, mais prontamente quereria sofrer todas as dores que sofreram ou sofrerão os homens neste mundo até o dia do juízo, do que sofrer, por um só dia, o menor sofrimento do purgatório. Por isso escreveu São Cirilo que aqueles sofrimentos, quanto à aspereza, são os mesmos do inferno, apenas diferem porque não são eternos.

19. As almas do purgatório sofrem horrivelmente e não podem socorrer-se a si mesmas


São, pois, muito grandes as penas daquelas almas e, por outro lado elas não podem ajudar-se, segundo Jó “estão presas e ligadas pelos laços da pobreza” (Jó 36, 8). Já estão destinadas ao Reino aquelas santas rainhas, mas dele não podem tomar posse, enquanto não chegar o fim de sua expiação. Portanto, não podem ajudar-se a si próprias, (ao menos suficientemente, se quisermos crer nos teólogos que admitem que aquelas almas, com suas orações, também possam impetrar para si algum alívio), para livrar-se daquelas prisões, em que estão detidas, enquanto não tiverem satisfeito inteiramente à justiça divina. Elas não podem quebrar essas cadeias, enquanto não estiverem satisfeito à justiça divina em todo o seu rigor. Foi o que disse, falando do purgatório, um monge cisterciense, aparecendo ao sacristão do seu convento: “Ajudai-me, pediu ele, com vossas orações, porque por mim nada posso obter!” Isto concorda com o que diz S. Boaventura: “A pobreza impede o pagamento das dívidas”. Quer dizer que as almas do purgatório são tão pobres que não podem satisfazer por si próprias à justiça divina.

20. A obrigação que temos de rezar pelas almas do purgatório (II)


É certo, entretanto, e até de fé, que nós, com os nossos sufrágios e, principalmente com as orações recomendadas pela Igreja, bem podemos auxiliar aquelas santas almas. Não sei como poderá se isentar de culpa, quem deixa de oferecer-lhes qualquer auxílio, ao menos algumas orações.

21. Motivos que temos para rezar pelas almas do purgatório


Senão nos mover a obrigação que temos, mova-nos, ao menos, a alegria que causamos a Nosso Senhor Jesus Cristo, quando nos aplicamos em libertar aquelas suas esposas diletas, para se unirem com Ele no paraíso. Movam-nos, enfim, os grandes merecimentos, que podemos obter praticando este grande ato de caridade para com aquelas santas almas. Elas são gratíssimas e bem conhecem o grande benefício que lhes fazemos, aliviando-as daquelas penas e obtendo, por meio de nossas orações, que mais depressa possam entrar na glória. Lá chegando, não deixarão de rezar por nós.

Se o Senhor promete ser misericordioso para com os que praticam misericórdia: “Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7), com muita razão pode esperar a salvação quem procura socorrer as almas do purgatório, tão aflitas e tão caras a Deus. Jônatas, depois de ter salvado os hebreus pela vitória sobre seus inimigos, foi condenado à morte por seu pai, Saul, por haver provado o mel contra a sua ordem. Mas o povo apresentou-se ao rei e disse: “Como há de morrer Jônatas, o salvador de Israel?” (1 Sn 14, 45). Ora, assim devemos também esperar que, se algum de nós obtiver, com nossas orações, a salvação de uma alma do purgatório e a sua entrada no céu, essa alma dirá a Deus: “Senhor, não permitais se perca quem me livrou das chamas do purgatório”. E, se Saul concedeu a Jônatas a vida, a pedido do povo, Deus não negará a salvação àquele por quem intercede uma alma do purgatório.

Além disso, diz Santo Agostinho, quem nesta vida mais socorrer as almas do purgatório, Deus fará com que seja também socorrido por outro, quando estiver lá no meio daquelas chamas.

22. A Santa Missa pelas almas do purgatório


Um grande sufrágio pelas almas do purgatório é participar da Santa Missa, e nela recomendá-las a Deus, pelos merecimentos da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, dizendo: Eterno Pai, eu vos ofereço este sacrifício do Corpo e Sangue de Jesus Cristo com todas as dores que sofreu em sua vida e morte e, pelos merecimentos de sua Paixão, recomendo-vos as almas do purgatório e especialmente as de… É ato também de muita caridade recomendar, ao mesmo tempo, as almas de todos os agonizantes.

Livro: A Oração - Santo Afonso Maria de Ligório.

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