Sinceridade da confissão e acerca do Diretor Espiritual

Texto de Santo Afonso Maria de Ligório

O que eu vos recomendo, é que sejais sinceros para com o vosso padre espiritual, e lhe descubrais fielmente todas as dobras da vossa consciência, dizendo-lhe as coisas como elas são: por exemplo, quando houver ação, não basta dizer-lhe que tivestes maus pensamentos.

Eu vos recomendo também que, quando confessardes vossas faltas, não alegueis escusas. Apresentar escusas e pretextos é mostrar que tem pouca dor das culpas confessadas. Quem julga ter tido razão de fazer o que fez, eu não sei como pode arrepender-se devidamente. — Há pessoas que reduzem toda a sua confissão a exagerar a ocasião que os induziu ao pecado da impaciência ou tal defeito. Mas eu pergunto: Para que serve isso? Confessai o pecado cometido, e deixai de parte as razões porque o fizestes. 

Além disso, deixai lá os discursos inúteis. 

Para que narrar ao confessor todos os desgostos recebidos? Fazer tantos desabafos das vossas enfermidades e tribulações? Se cortásseis todas estas lamúrias, um quarto de hora vos bastaria para toda a confissão; na qual o que deveis buscar mais, é o meio de corrigir algum mau hábito e de avançar na perfeição.

Há pessoas que, nas confissões, repetem sempre a mesma canção que aprenderam de cór e que dura ao menos um meio quarto de hora: dizem, por exemplo: Eu me acuso de pouco amor a Deus, de não ter cumprido a minha obrigação, de não ter amado o meu próximo como devia, e coisas semelhantes. — Para que serve esta cantilena? não é um tempo perdido? 

Quando o vosso confessor vos falar sobre a direção do vosso espírito, não deveis interrompê-lo, mas atende ao que vos diz, sem pensar em outra coisa. Há alguns que só pensam em falar, e, quando o confessor lhes diz alguma coisa, quase não lhe dão ouvido. — S. Francisco de Sales recomendava ter em grande estima as palavras que nos dirige o diretor na confissão, porque então ele está no lugar de Deus, que o esclarece de um modo especial para nos dizer o que melhor convém ao nosso bem espiritual. 

DA NECESSIDADE E DA ESCOLHA DE UM PADRE ESPIRITUAL


É verdade, diz S. Gregório, que alguns santos foram guiados imediatamente por Deus; mas tais exemplos, acrescenta o santo, são mais para serem venerados, do que imitados, para que não aconteça que um desdenhando ser guiado por outro, se torne mestre do erro. A verdade está no meio. Na vida espiritual, assim como é vício usar a preguiça, assim também é vício usar a indiscrição: ao diretor compete, pois, corrigir e moderar uma e outra, e é por isso um guia necessário. Deus bem poderia nos dirigir a todos por si mesmo, mas para nos tornar humildes, quer que nos sujeitemos aos seus ministros e dependamos da sua autoridade.

Cassiano refere que um solitário, no deserto, consumido pela fome, recusou alguns pães que lhe ofereceram; esperava, dizia ele, que Deus por si provesse à sua necessidade, e o desgraçado assim morreu miseravelmente de inanição. Poderia alguém perguntar porque o Senhor que enviou pão por um corvo a S. Paulo eremita durante tantos anos, não quis fazer o mesmo a este solitário? A resposta é fácil: S. Paulo não tinha com que se nutrir, ao passo que este não quis aceitar o alimento que lhe foi oferecido. Eis por que Deus o abandonou. Ora isto que se disse do alimento corporal, se aplica igualmente ao espiritual. Dai conclui Cassiano que não merece ser dirigido por Deus, quem recusa a direção dos sábios.

A escolha do padre espiritual não se deve fazer ao acaso ou por gosto; mas há de recair naquele que se julgar melhor para o próprio aproveitamento. Deve ser não só um homem de ciência e experi- ência, mas também de oração e dado à perfeição. O tonel não pode dar outro vinho senão o que contém. Dizia Sta. Teresa: “Se os diretores não são homens de oração, pouco valerá a sua ciência”. Uma vez escolhido o diretor, não se deve deixar sem uma razão evidente. Se é forte no repreender, não é razão para se deixar, mas antes de não se afastar nunca da sua direção. — Eis o aviso que S. Luiz, rei de França, deixou sobre esta matéria ao filho que lhe havia de suceder no trono: “Confessa-te muitas vezes, e escolhe confessores virtuosos e doutos que te saibam instruir no que deves fazer ou evitar, e deixa que teus confessores te repreendam e advirtam livremente”. Não há confessor pior do que aquele que repreende pouco e que se mostra indulgente demais para as faltas do penitente, pois assim o habitua a fazer pouco caso delas.

Obedecei ao vosso diretor, e não vos afasteis do que ele vos impõe ou permite, por melhor que vos pareça aquilo que desejais fazer contra o seu conselho. Lê-se nas vidas dos padres antigos que um jovem religioso, já muito adiantado na virtude, quis, um dia, contra o conselho do seu padre espiritual, retirar-se do mosteiro para ir fazer uma vida solitária. Mas que sucedeu? Da solidão em que vivia, quis uma vez ir visitar seus parentes, e ali se esqueceu do deserto e se entregou à uma vida relaxada.

Vós me direis talvez que, caminhando sob a direção do vosso confessor, vos achastes mal dirigido, como depois vos asseguraram outros padres espirituais. — Primeiramente, eu vos respondo que dificilmente pudestes desvairar, seguindo o caminho da obediência. Mas se assim aconteceu, sabeis porque? É talvez porque obedecestes em certas coisas, e noutras não; e Deus não está obrigado a prestar o seu concurso a uma obediência tão defeituosa. Ponde-vos inteiramente nas mãos do vosso diretor; e obedecei-lhe em tudo; então o Senhor não permitirá que resvaleis no erro. Ainda que o vosso confessor não tenha toda a ciência conveniente, Deus terá o cuidado de suprir; porque não é possível que uma alma que deseja santificar-se e confia em Deus seja iludida, quando obedece fielmente ao seu ministro.

A grande serva de Deus, irmã Paula Centurione, dizia: “Para mim todos os confessores parecem os mesmos, pois que cada um aplica-me o sangue de Jesus Cristo para curar as chagas da alma”.

Haja boa vontade e ânimo resoluto de recusar ao amor próprio toda a satisfação, para achar, em todas as coisas, somente o que agrada a Deus. É por isso que a venerável sóror Úrsula Benincasa dizia às suas religiosas: “Minhas irmãs, estai persuadidas de que nenhum diretor vos poderá jamais fazer-vos santas, se não estiverdes resolvidas a mortificar a vontade própria e as vossas paixões”.

Santo Afonso Maria de Ligório - A Verdadeira Esposa de Cristo, II.

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